Pintura "Wall painting on black ground: Aedicula with small landscape, from the imperial villa at Boscotrecase" - autor desconhecido
Os homens, em geral, parecem
empregar a razão para justificar preconceitos, assimilados quase sem saber
como, em vez de procurar desarraigá-los.
A mente que forma com
resolução seus próprios princípios deve ser forte, porque prevalece uma espécie
de covardia intelectual (...)
Mary Wollstonecraft
Tu que não
tiveste abrigo. Apoio. Comoção. Arminda, que poderia ser uma
grande escritora brasileira,
porém seguiu perdida, em fuga. Não
firme, corria insegura,
precária nos arredores do Largo
da Carioca. Nomeada escrava, usada. Sua história
escravizada era só um pouco
parecida com a de um Cândido Neves, se não fosse tão
desprovida de direitos.
É certo que
eram ambos ninguéns em diferentes nichos sociais e gostavam de batucada.
Era para ela
ser mãe como diz o título do conto. Arminda. Nossa origem,
uma matriz esquecida pelas
batidas extintas do coração de seu rebento igualmente
aniquilado pelo apagamento dos
brancos – desvios narrativos –, pelo medo
de viver no século XIX.
Era uma
simples pessoa com desejo de ver a abolição acontecer. Tu foste só
mais uma mulher que abortou?
Quiçá teu porvir também findou, tamanho o desgosto
que era existir em meio a um
espaço onde todo o ódio imperava.
Ah, se
tivesses tempo para conhecer. Se pudesses ter conhecido. Se tivesses
conhecido a grande romancista
negra do Maranhão, mas não. Não pudeste ser Firmina.
“Não!” Era o que gritavas para não levar o
açoite do patrão: “negra fujona”!
Na rua da
ajuda, ela não chegou, mas o outro, sim. “Pai contra mãe” e um filho
contra a realidade. Era sua
história. Foi uma História consumida pelo Poder.
Porém, para
além do controle, seria preciso pensar. Os fatos, às vezes, clamam
por verdade. Ou apenas, quem sabe,
desejam algo como uma sutil transcriação.
Esperam, ao invés de vingança: Independência.