terça-feira, 15 de junho de 2021




Forasteiros do eterno 
- dedicado a Vicente Franz Cecim -


Ar que perfaz 
                          oOs 
caminhos 
                  os ninhos de nós
pássaros-paisagens
desdobrando-se em horizontes
sustenta
               oce                 anos
de dias outros
                                 ele      Vando
os           s a i s
centelhas de desordens que nos
               alimentam, seus elos

Ar que percorre     
                                     toda a vida
                              em
êxtase ~                ~
          ~          espumando     ~
as noites e as manhãs
em nossos olhos recém-abertOs
                              de agora

Ar que avança
                           em
               tons vivos___voa
                                  em
    vozes rítmicas
de ontem, de antes 
sua            sanha   e     regres-
so do depois de ante-
ontem do jardim epi-curado,
nele havia e haverá uma aVe-Ar:

umanoh ser, cria da semente
acréscimo de Sim numa sala neg-
                                                    ativa.

terça-feira, 8 de junho de 2021

"Pássaro da liberdade" (1975), de Clarice Lispector - técnica mista sobre madeira. Diálogo ecfrástico


 Liberdade



Morrera           Nascera
                 e     
hoje inventaria outro espelho se já não houvesse
tocado aquele: origem e fim
vazio desta nossa liberdade
inteira claridade atrativa
uma aVe: escrit-asa do céu
 
Passo o esboço a limpo
simples passagem
lembrança não melódica
do outrora ouvido:
o canto do passado como Um sopro de vida
 
qual pássaro que ultrapassa qual-
quer paisagem e forma
cresço, heroica, qual
sumo de fruta que escorrre
e com o corpo recomposto de
ontem, descubro agora:
vibra (no) alto o mundo

vi-vi
bem vi(m) ver
o corte da realidade
o descortinado dia
em si, um lume imperecível
sereno e inefável
 
voo de águia-gaivota
deixo-te ser o alvo grito de
Rá             ná
        pi             



 



“Nélida Piñon Madeira feita cruz” (sem data), de Clarice Lispector - óleo sobre tela. Diálogo ecfrástico
 
 
 
Luto
 

Noite de Cruz e
aroma de flor:
não dormida, aguardando o
Espelho Límpido, qual sonho de outro sonho
Após a morte: Neste silêncio e abandono: tal aperto E sem garantias procuro o
horizon-
te no arado
eterno de
23:33 ainda
Luto luto luto

 
Quase não existe
não há fruta
há verme
mas vivo
na graça do nimbo
às cegas ] jurando
Anônima com fragilidade [ Cravar no solo meus dentes
de pantera negra; Triplamente; no cavalar;
 do tempo_Tocando
as palavras proibidas
com o prazer do sorriso calmo
ainda que eu no luto e com a
Verdade em pinho de Riga
descreva o semblante de  meu
desespero e esta fraqueza:
 o espaço en-tre, alegria, 00:11,
não vencida, a escrita pulsando
quente ao ver a sombra das flores
 
 
Será um Luto?
chegar em casa,
o solo fértil que recebe o sol de toda gente em luto
 qual invenção de Doentes-ofuscados na irradiação
surge o Inaugural abrigo
abaixo,  um olho mágico
atento, enterrado elo
 dos seres mínimos
 
 



“Tentativa de ser alegre” (1975), de Clarice Lispector - técnica mista sobre tela. Diálogo ecfrástico



Novidade do sonho


A boca prova a placenta
Arte das fêmeas
que par(t)em

São os fatos da vida
em aberto
redigindo o espaço do sinuoso nada

Ela sente o Deus na ostra
e respira, ainda que falte
Saliva

Leia o meu intento de sorrir
Latejante o furor do toque
Indescritível
Com as mãos desejadas

Tulipa desconhecida
matéria cúmplice e enamorada

eu vivo para ascender aos poucos
rumo ao momento elementar

Quem sabe responder à minha saudade
do sonho...






“Perdida na vaguidão” (1975), de Clarice Lispector - técnica mista sobre madeira. Diálogo ecfrástico


Lua perdida em hiatos

 
Alva explosão da
membrana )coral(

 A vértebra central
do tempo enovelado
conduz o que existe
9, 7, 8 vezes para o Breu

Há forte contato
com o Agora:
~ecoa na palavra
~crosta íntima com o movimento do leite
~é sério como descobrir novas terras

~que nos levem pra trás
~do verbo útil

(Fujo: o que não vejo
Existe mais ainda)


 

 





“Escuridão e luz: centro da vida” (1975), de Clarice Lispector - técnica mista sobre madeira. Diálogo ecfrástico

Em torno do eterno


Abertura fractal do oculto
gérmen calado nos acompanha e
vai experimentando um novo
território
Sol-i-dão
da vida
na chama da vela
 
Começo aqui (( nesta luz de afeto
)) não descartável_ nós


 

 

              [sem título] (1976), de Clarice Lispector - óleo sobre tela. Diálogo ecfrástico


Selva


Incerta,
sobrevivo ao lento compasso
entrecruzado por tépido
Vermelho-gozo.
 
Noite atingida por
cada sopro:
peças do mar
de criança
 
Sangrando o futuro,
                               abraço a história
 
 

O “Figurativo do Inominável”: Experiências Poéticas

 

                            “Gruta” (1975), de Clarice Lispector - técnica mista sobre madeira. Diálogo ecfrástico


Grútero


Cada dia com sua sina, nada
nas crispações do corp::;_o
_::; Mundo mudo em ti , folheando um
Livro de células e estalactites berrantes, qual
Circunlóquio do verso que treme e
cai, por se ver se lendo no abismo do
não nascido, me escolho microenlutada e nu
A entrada é a Cavidade do verbo ansiado
E estás Bem guardado, tu,
filho que vem do instante
União do brilho com o breu e
as cores da lágrima:
Vitrais do céu