terça-feira, 15 de fevereiro de 2022




Arte de Luciana Moraes



(ÃO)


Esteve
⠀⠀⠀⠀⠀por
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀muito
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ tempo
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀aqui

entre o
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀furacão ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀e ⠀⠀⠀⠀a
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀calmaria
entre o zumbido
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀da
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀mosca
e o espasmo do viver ainda
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀retumbando sentidos constelares
replicando em considerações
finais acerca do intangível
grito

Seu reflexo. Seu borrão.



domingo, 13 de fevereiro de 2022




imagem do Pinterest — autor desconhecido



Autof(r)icções

 -poema alucinado pela necessidade do dia-



Raptos na madrugada
ratos foscos sem son(h)o
rastros no espaço
                             ⠀lapsos

sendo ainda
bio de(sa)gradáveis
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀as folhas e as palavras

ainda, casas que sobem
pelo olhar; trajetos
Nas alturas, telhas e mais telhas
contínuas paredes
e janelas
rasurando o tempo
a perder de vista
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀o céu

Retorna à menção do outrora fogo alastrado
Um dia roxo de signos voláteis
e desinformados
arquipélagos sonoros
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀revisitados

E, à deriva, cri(s)e:
trilha em cores secundárias;
uma música para renascer
numa fictícia manhã
de paisagem
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀-ilha

história testemunhada, transparente
transportada pelos pássaros
e que seja verdadeira
e que seja límpida –
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ainda hoje⠀⠀

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

 


                                      imagem do Pinterest (autor desconhecido)

ReNascer

 

Meu dia parte do traço

A matéria se refaz em cada sopro

Meus sonhos têm a minha voz e passam

por entre minhas mãos

Me reconheço em meio ao deserto

de olhos fechados, iluminando o caos:

a coragem e o sorriso do silêncio recriado.



 




Ouvir(Ara) o tempo
(23/06/2021)


Se fosse uma rede
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀balançando
⠀ nossas memórias
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀nesta sala — Carpe diem
mas são talvez 503 mil mortos aqui

Houvesse o ritmo das tecelãs aqui
⠀timpá os gritos
do passado
⠀ redefinindo a cena de uma dança
⠀⠀⠀⠀⠀⠀de algum dia
perdido

deitar à sombra do Jatobá
milenar pulso do teu casco
engolir o tic tac do achamento luso

Tempos rudes tilintam
procuro inguuán
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀meu encanto
⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀minha terra
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀nosso espaço
nossa cor e remanso
lá onde os sabiás
porventura dormem


 

 

imagem do Pinterest (autor desconhecido)

Fome

 

Parece que vens
como a boca traz
           a vida
como a fome cria
           o sangue
antes que o mundo e
tudo se acabe
 
Parece que sonhas
peixe salta
                   o Capibaribe sem
                   lodo
só cana massapé
                    vida vermelha
 
por dois quilômetros
                                   ~  ~ navegamos ~
       à distância da foz e
       sem histórias da cidade
 
sedimentos
                    sentidos
                                   fonte
nossos dejetos reais
                        icono-pairam
no retro-desenvolvimento
 
                           Hámor-paisagem
um dia boca akiô




 

                                                 imagem do Pinterest (autor desconhecido)

 

Hóspede 


Silên     cio, peço calor
se eu fosse mais ligeira
fato: mãos não estariam
____assim tão secas
 
E este mundo                                       que vai tão ágil
                                  hidratado?
E chega tão rápido à porta da noite
E toca outras vidas,                             mas não tange os mortos?
 
E esse soco frio que te espanta:
que você não fez
que você não chegou lá
que não importa sua voz seu corpo sua mão
que o tempo passa que é pra correr
________________ultrapassar os outros?
 
Mas o dia não chega:
beijos por entre árvores imaginárias
     Yamandú, nosso 
      Pai verdadeiro
Kaiapó, a noite me enlaça
à noite eu nasço
silêncio que tudo ilumina
 
Realizo outra face
        tapuató
minha mão recompõe uma imagem
escreve, inscreve___um convidado
 
minha vista recria minha história
minha mão me toca
         çakú icê
e me reconhece
                             parte da origem
 
icí__________um
caminho in fi ni to ]des-
enformado[
 
 
 
 

domingo, 2 de janeiro de 2022


 
Carregadores Cristais

Janela dadá Janeira Lá
Quais elos existiriam?

se possível verei o céu pelo avesso com as folhas de relva
darei suspiros ao anoitecer
para a enorme (vrum)
vidraça intransferível
que fere os olhos quando se abrem,
mas, estes, intrépidos, que tocam os contrastes das cores
todas as paisagens sonoras>> distantes (vrum) e>> defectíveis

a palavra (vrum) real se esboça se tatuando na carne 
pontilhando os cabelos ... fé-emlouça-fezes-efé

O mundo, enorme,
e o mar de signos (vrum)
pulsam, desencontrados
entre enchentes e desertos
neste tempo absoluto e rasurado: (vrum) vida

O poema se parecerá com você

O verbo escondido no vento percorre
silenciosamente os dias com sua (vrum) palavra
a desintegrar a forma do real__

__nos mostrando outro refúgio 
(vrum) pelas mãos dos que atuam na contra-
corrente na selva (vrum) por trás de tudo neste
espa(vrum)ço
dinÂmicO de 
justa intenção.