segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Imagem do Pinterest - Autor desconhecido

Janela semiaberta

(recriação a partir do conto "A janela", de Lygia Fagundes Telles)

 

Ela está no interior do fruto

no sumo do acontecimento

no suco presente

ela é o próprio desejo se bebendo

e se tragando na cinza das horas

 

Ele gira em indagações

filho do fruto era o filho da árvore

está vivendo o passado

num dia em que

ainda era pai

 

A palavra é parto das roseiras

descalabro do silêncio

dados suspensos no ar

os significados em suas mãos

 

Se houver um passo em falso

deixamos de ver a janela

esquecemos o tempo

e perdemos de vista

o nome dos objetos:

insano instante

 

Se cairmos no chão como uma

Rosa toda delicada

ou uma fruta podre de vida sumarenta

de algum modo

estaremos com eles:


quase entregues,

entre a reflexão  

e

o ocaso.


 

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